Estudo da UCSF descobre mais de 600 doenças relacionadas à endometriose

Registros de milhões de pacientes em hospitais da UC mostraram correlações entre endometriose, uma das doenças mais comuns em mulheres, e uma série de outras enfermidades.

Cientistas da UCSF descobriram que a endometriose, uma condição crônica e dolorosa que afeta 10% das mulheres e muitas vezes não é diagnosticada, está frequentemente associada a condições como câncer, doença de Crohn e enxaquecas.

O estudo pode melhorar o diagnóstico da endometriose e, em última análise, seu tratamento; ele fornece o quadro mais preciso até o momento de uma doença que é tão misteriosa quanto comum.

O estudo, publicado em 31 de julho no Cell Reports Medicine, usou métodos computacionais desenvolvidos na UCSF para analisar registros médicos anônimos coletados em seis hospitais da UCSF.

“Agora temos as ferramentas e os dados para fazer a diferença para o vasto número de pessoas que sofrem de endometriose. Esperamos que este seja o início de uma reformulação fundamental de como abordamos esta doença”, disse Marina Sirota, PhD, diretora interina do Instituto Bakar de Ciências Computacionais da Saúde (BCHSI) da UCSF, professora de pediatria e autora sênior do artigo.

O poder do Big Data UC Health

A endometriose, frequentemente chamada de "endo", ocorre quando o endométrio — o tecido rico em sangue que reveste o útero antes de ser eliminado durante a menstruação — se espalha para os órgãos próximos. Causa dor crônica e infertilidade. Estima-se que a endometriose afete quase 200 milhões de mulheres em todo o mundo.

“A endometriose é extremamente debilitante”, disse Linda Giudice, médica, PhD, MSc, médica-cientista do Departamento de Obstetrícia, Ginecologia e Ciências Reprodutivas da UCSF e coautora do artigo. “O impacto na vida dos pacientes é enorme: seus relacionamentos pessoais, sua capacidade de trabalhar, de constituir família e sua saúde mental.”

O padrão ouro para o diagnóstico da endometriose continua sendo a intervenção cirúrgica com detecção visual de lesões endometriais fora do útero; o principal tratamento é a terapia hormonal para suprimir o ciclo menstrual ou a remoção cirúrgica do excesso de tecido.

No entanto, nem todas as pacientes respondem à terapia hormonal, que pode ter efeitos colaterais graves. Mesmo após a cirurgia, a doença pode recorrer. A histerectomia (remoção do útero) é uma medida extrema, geralmente usada em mulheres mais velhas, mas algumas pacientes continuam a sentir dor após a cirurgia.

Giudice se uniu à Sirota para usar dados anônimos da UC Health sobre pacientes com endometriose, que varia muito de paciente para paciente. Ambas as cientistas são líderes de projeto no Centro ENACT de Pesquisa em Endometriose da UCSF-Stanford.

“Os dados são confusos — não foram coletados para pesquisa, mas sim para um propósito real e humano: ajudar mulheres necessitadas”, disse Sirota. “Tivemos a rara oportunidade de avaliar de forma abrangente como a endometriose se manifesta na população da UCSF e, em seguida, verificar se esses padrões se confirmam em dados de outras clínicas da UC.”

Dados conectam pontos na compreensão da endometriose

Usando algoritmos desenvolvidos para essa tarefa, Umair Khan, estudante de pós-graduação em bioinformática no laboratório de Sirota e primeiro autor do artigo, procurou conexões entre a endometriose e o restante do histórico médico de cada paciente.

Ele comparou pacientes com e sem endometriose e, em seguida, dividiu as pacientes com endometriose em grupos com base na similaridade de suas condições subjacentes. Khan comparou os padrões encontrados na UCSF com dados de outras clínicas da UC na Califórnia.

“Encontramos mais de 600 correlações entre endometriose e outras condições”, disse Khan. “Entre elas, algumas que você poderia esperar, como infertilidade, doenças autoimunes e refluxo ácido, e outras que você talvez não esperasse, como certos tipos de câncer, asma e doenças oculares.”

Foi descoberto que algumas pacientes tinham enxaquecas, o que corrobora pesquisas anteriores que sugerem que medicamentos para enxaqueca podem ajudar na endometriose.

“Estudos como este eram quase impossíveis antes”, acrescentou Tomiko Oskotsky, médica, pesquisadora do ENACT, professora associada da UCSF BCHSI e coautora do artigo. “Foi apenas há doze anos que prontuários eletrônicos de saúde anonimizados se tornaram disponíveis em quantidades tão grandes.”

O estudo reforça a crescente compreensão da endometriose como um distúrbio "multissistêmico" — uma doença que surge de distúrbios em todo o corpo.

“Este é o tipo de dado de que precisamos para romper o impasse que se arrasta há décadas”, disse Giudice. “Estamos finalmente nos aproximando de um diagnóstico mais rápido e, em última análise, esperamos, de um tratamento personalizado para milhões de mulheres que sofrem de endometriose.”