Sobre a cultura alimentar

Se houvesse um excedente de produtos alimentícios no mundo hoje que tornasse possível sua livre escolha, mais de 8 bilhões de pessoas seriam poupadas de formas severas de fome. Além disso, muitas pessoas deixariam de sofrer de outros defeitos nutricionais graves, como, por exemplo, o excesso de carboidratos, que leva à obesidade com todas as consequências graves. No entanto, como demonstram análises especiais realizadas em vários países, a produção suficiente de produtos alimentícios por si só não garante a manutenção da saúde humana em um nível ideal. Uma alta cultura nutricional é necessária. Além disso, é necessário garantir que uma cultura mais ampla, que deveria ser chamada de trofológica, inclua, além da cultura nutricional, a cultura da produção (incluindo agricultura, ecologia, tecnologias industriais), distribuição e armazenamento de alimentos.

Até recentemente, a cultura do corpo humano era considerada principalmente física. No entanto, a cultura do corpo é muito mais complexa e ampla e deve incluir muitos aspectos da biologia, incluindo genéticos, ecológicos, bioquímicos, fisiológicos, trofológicos, etc. A cultura trofológica implica a compreensão e a utilização, na vida diária de cada pessoa e da sociedade como um todo, das leis básicas do metabolismo e dos padrões nutricionais que garantem o funcionamento ideal do corpo, com ajustes às condições de vida, clima, trabalho, etc. A cultura trofológica da nutrição inclui a compreensão não apenas das regras de consumo alimentar, mas também de todas as etapas do trabalho com produtos alimentícios na agricultura e na indústria alimentícia (em diversas empresas da indústria alimentícia e de conservas) e, claro, no comércio. Estamos falando da observância não apenas de regras higiênicas, mas também "biológicas". Também é claro que uma cultura trofológica só pode ser construída com base em abordagens científicas que permitam justificar não apenas o consumo correto de produtos alimentícios, mas também sua produção, processamento, armazenamento e distribuição.

A cultura da nutrição faz parte da cultura trofológica. Isso é justo, visto que sem algum nível de cultura da nutrição é extremamente difícil resolver uma série de problemas globais, incluindo o problema de derrotar a fome e muitas doenças terríveis do nosso século (aterosclerose, doenças cardiovasculares, algumas neoplasias malignas, diabetes, distúrbios do trato gastrointestinal e muitas outras), bem como o problema de combater o envelhecimento do corpo.

À luz do conceito de cultura trofológica, uma série de problemas devem ser considerados, incluindo a regulação do apetite. Já mencionamos que os humanos provavelmente têm uma capacidade surpreendente, parcialmente prejudicada, de regular o consumo de alimentos, característica dos animais. A regulação do consumo de alimentos é um dos mecanismos mais importantes da homeostase, que garante a manutenção da constância da composição molecular do organismo. Ao mesmo tempo, esse mecanismo é um dos mais vulneráveis devido a diversas circunstâncias.

O controle do apetite e da nutrição evoluiu e se baseia em um sistema específico de sinais. A educação alimentar incorreta e o comportamento alimentar humano incorreto, na ausência de uma cultura alimentar, levam a inúmeros erros no funcionamento dos mecanismos de regulação do apetite. O mais comum desses erros é comer em excesso um tipo de alimento e comer de menos outros. Já no âmbito da teoria da nutrição balanceada, modelos de alimento ideal e nutrição ideal foram formulados para superar essa deficiência fundamental. No entanto, do ponto de vista da teoria da nutrição adequada, o alimento não pode ser ideal. Um conceito mais apropriado é o de alimentação adequada, que varia amplamente dependendo das condições externas e do estado funcional do corpo.

A proporção dos vários componentes dos alimentos e a natureza da nutrição, que devem garantir o funcionamento eficaz do depósito e o "exercício" dos vários sistemas metabólicos do corpo, devem ser consideradas do ponto de vista da cultura trofológica, incluindo a cultura nutricional. Deve-se notar que algumas "escolas nutricionais" e tendências que utilizam certos tipos e modos de nutrição frequentemente alcançam sucesso significativo, pois, ao influenciar certas formas de metabolismo, alcançam resultados úteis. No entanto, em alguns casos, os efeitos são, infelizmente, de curto prazo e, às vezes, indesejáveis. É por isso que a cultura nutricional deve ser formada sob a supervisão de especialistas – médicos e professores –, levando em consideração a experiência de longo prazo e as mais recentes conquistas da ciência, a fim de otimizar conscientemente ("noosfericamente") a nutrição, que nos humanos perdeu em grande parte sua regulação instintiva.

Atualmente, é difícil caracterizar todas as características da cultura alimentar. Ao mesmo tempo, algumas de suas características são óbvias. A cultura alimentar é uma satisfação conscientemente organizada, possivelmente mais otimizada (adequada), das necessidades alimentares, com base nas conquistas da trofologia, da humanidade e dentro das capacidades da economia, ecologia, etc. Também é necessário ter em mente as características evolutivas do organismo humano. À luz disso, alimentos poliméricos são adequados, não monoméricos (elementares). Também é absolutamente claro que a endoecologia não pode ser negligenciada. Desse ponto de vista, as consequências destrutivas do uso de antibióticos e da automedicação são trágicas, uma vez que suprimem as populações bacterianas que se formam no nascimento e com as quais interações simbióticas positivas foram estabelecidas.

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