Fumantes pesados apresentam atrofia cerebral típica do Alzheimer

Um novo estudo usando ressonância magnética mostra que fumar danifica áreas importantes do cérebro envolvidas na memória e no pensamento, e que o excesso de peso pode aumentar os danos, levantando novas questões sobre a prevenção da demência.

Um estudo recente publicado na revista NPJ Dementia examinou a relação entre tabagismo e atrofia cerebral, e se o índice de massa corporal (IMC) moderava essa relação. O estudo constatou que fumantes apresentavam volumes de substância cinzenta e branca significativamente menores em seus cérebros do que não fumantes. Quando o IMC foi incluído em modelos estatísticos, a associação entre maços de cigarro fumados por ano e perda de volume cerebral foi enfraquecida, sugerindo um possível efeito mediador em vez de causalidade direta.

Doenças neurodegenerativas: prevalência e fatores de risco

Um distúrbio neurodegenerativo ocorre quando os neurônios do cérebro e do sistema nervoso perdem gradualmente a função, levando a um declínio nas capacidades físicas e cognitivas. A doença de Alzheimer (DA) é o tipo mais comum de demência, afetando a memória, a cognição e o comportamento.

A prevalência de demência tem aumentado em todo o mundo. De acordo com um estudo recente, cerca de 47 milhões de pessoas em todo o mundo foram diagnosticadas com demência, e espera-se que cerca de 10 milhões de novos casos sejam registrados a cada ano.

Numerosos estudos identificaram fatores de risco para demência no início, na meia-idade e na terceira idade. O tabagismo é um fator, estimado em até 14% dos casos de demência em todo o mundo. As toxinas presentes na fumaça do cigarro podem causar neuroinflamação, um mecanismo intimamente ligado à DA. Além da demência, estudos anteriores também demonstraram que fumantes apresentam maior risco de desenvolver doenças cerebrovasculares e respiratórias.

Embora metanálises anteriores tenham associado o tabagismo a um risco aumentado de demência, poucos estudos de grande porte examinaram como o histórico e a intensidade do tabagismo estão associados à atrofia cerebral medida por ressonância magnética, um biomarcador de neurodegeneração. Para avaliar isso, é necessário examinar a relação entre tabagismo e atrofia cerebral, que é a perda de tecido cerebral devido ao encolhimento ou morte de neurônios com redução no número de conexões neurais.

Pesquisadores normalmente monitoram a atrofia cerebral na DA e em outras doenças neurodegenerativas por meio de neuroimagem e avaliação volumétrica por meio de ressonância magnética ponderada em T1 — o que difere do envelhecimento natural. A ressonância magnética é usada para avaliar a perda de volume cerebral, um biomarcador da neurodegeneração.

Apenas alguns estudos de grande porte examinaram a associação entre tabagismo e atrofia cerebral medida por ressonância magnética, o que pode desempenhar um papel fundamental na compreensão da contribuição do tabagismo para o declínio cognitivo e a DA.

Sobre o estudo

O estudo atual testou a hipótese de que indivíduos com histórico de tabagismo apresentam maior atrofia cerebral em todo o cérebro e nos lobos, em comparação aos não fumantes.

Um total de 10.134 participantes com idades entre 18 e 97 anos foram recrutados em quatro locais de estudo. Todos os participantes foram submetidos a ressonância magnética de corpo inteiro sem contraste. Antes do exame, eles responderam a questionários que coletavam informações sobre seus dados demográficos, histórico médico e tabagismo. Cada participante relatou o número de maços de cigarro por dia que fumava e o número de anos que fumava.

Com base nesses questionários, os participantes foram divididos em grupos: fumantes (número de maços-ano diferente de zero) e não fumantes (número de maços-ano zero). Os números de maços-ano são um indicador da exposição ao tabaco que leva em consideração a duração e a intensidade do tabagismo. O grupo de fumantes incluiu 3.292 pessoas, e o grupo de não fumantes, 6.842 pessoas.

O estudo utilizou o FastSurfer, um pipeline comprovado de aprendizado profundo, para quantificar o volume cerebral a partir de imagens 3D T1. Um modelo de aprendizado profundo também foi utilizado para segmentar o volume intracraniano (VCI).

Um modelo de regressão foi realizado para fumantes para analisar a relação entre anos-maço e volumes cerebrais:

• Modelo 1: ajustado por idade, gênero e centro de estudo;
• Modelo 2: com ajuste adicional para IMC.

Resultados da pesquisa

Em comparação com os não fumantes, os fumantes eram mais propensos a ser do sexo feminino, caucasianos, ter um IMC mais alto, ser mais velhos e ter mais diabetes tipo 2 e hipertensão. A média de anos-maço no grupo de fumantes foi de 11,93.

Comparações entre regiões mostraram volumes cerebrais menores no grupo de fumantes. A análise bivariada de Pearson mostrou uma correlação positiva moderada entre IMC mais alto e maiores anos-maço. As comparações dos modelos 1 e 2 mostraram uma diminuição na significância estatística e no tamanho do efeito em 11 regiões cerebrais ao controlar o IMC, indicando um possível, mas não comprovado, papel mediador do IMC na associação entre tabagismo e atrofia cerebral.

É importante ressaltar que, mesmo após levar em conta o IMC, os fumantes ainda apresentavam atrofia significativa em diversas regiões, incluindo áreas associadas à doença de Alzheimer, como o hipocampo, o córtex cingulado posterior e o pré-cúneo.

Conclusões

O presente estudo mostrou que indivíduos com histórico de tabagismo e maior número de maços-ano apresentaram evidências de atrofia cerebral. Resultados preliminares também indicam que o IMC pode desempenhar um papel potencial na mediação da associação entre tabagismo e perda de volume cerebral. Assim, obesidade e tabagismo são dois fatores de risco modificáveis que podem ser usados no futuro para prevenir demência, incluindo a DA.

Mais estudos são necessários no futuro para examinar o potencial efeito mediador do volume de hiperintensidade da substância branca e da atrofia cerebral no contexto do histórico de tabagismo.

Os principais pontos fortes deste estudo são a análise de uma grande coorte com histórico de tabagismo e a obtenção de imagens estruturais cerebrais quantitativas. Além disso, foi possível medir o volume cerebral em regiões afetadas pela patologia da DA, como o hipocampo, o córtex cingulado posterior e o pré-cúneo.

Apesar de seus pontos fortes, a natureza transversal do estudo limita a capacidade de tirar conclusões causais. Além disso, o desenho não incluiu testes cognitivos ou biomarcadores de DA, como amiloide ou tau, limitando a capacidade de relacionar diretamente a atrofia cerebral à demência. Portanto, estudos longitudinais são necessários para confirmar o papel do IMC nessa relação.