O colesterol dos pais prevê a gravidade da asma em crianças

Um novo estudo relaciona a saúde metabólica dos pais e o peso do bebê ao nascer à gravidade da asma, descobrindo pela primeira vez que os níveis de colesterol paterno podem ter um efeito protetor modesto.

Introdução

A obesidade infantil está aumentando em todo o mundo, afetando mais de 15% das crianças americanas. Associado a esse aumento está um risco maior de desenvolver asma. O papel dos distúrbios metabólicos e da obesidade parental na incidência de asma nos filhos é o tema de um estudo recente publicado na Respiratory Research.

A obesidade está associada à inflamação crônica e a múltiplas anormalidades metabólicas nas vias metabólicas da glicose e dos lipídios. A obesidade abdominal predispõe a níveis elevados de colesterol no sangue e resistência à insulina. Como resultado, esses indivíduos apresentam maior risco de doenças cardiovasculares, diabetes e asma.

Cerca de 17% dos adolescentes americanos e 16% das crianças são obesos. Essas taxas triplicaram para crianças negras e hispânicas nas últimas quatro décadas. Tendências semelhantes são observadas na Europa.

Ao contrário da maioria dos casos de asma em todo o mundo, o fenótipo único de asma observado na maioria dos pacientes com asma associada à obesidade reflete uma natureza inflamatória, e não alérgica, da doença. Em crianças, a asma associada à obesidade é caracterizada pela ativação de células inflamatórias e comprometimento da homeostase lipídica e glicêmica. Os mecanismos subjacentes a essas associações não são totalmente compreendidos, o que foi uma das motivações para a realização deste estudo.

Acredita-se que a obesidade materna antes da gravidez e o ganho de peso durante a gestação estejam associados a níveis elevados de lipídios no sangue (colesterol total, lipoproteína de baixa densidade (LDL, ou colesterol "ruim") e triglicerídeos). Além disso, seus filhos têm maior probabilidade de serem obesos na infância e de apresentar doenças respiratórias, incluindo chiado no peito e infecções respiratórias.

No entanto, a associação entre peso paterno e anormalidades metabólicas com doenças respiratórias na prole permanece obscura. O presente estudo examinou a associação entre obesidade parental e marcadores metabólicos com dislipidemia e asma na prole. Também avaliou se o peso ao nascer, particularmente o baixo peso para a idade gestacional, está associado a desfechos de asma e se os resultados podem ser generalizados para além de crianças que recebem corticosteroides inalatórios (CI).

Sobre o estudo

O estudo incluiu 29.851 crianças da coorte nacional dinamarquesa REASSESS Youth, com idades entre 2 e 17 anos (idade média de 9 anos). Destas, aproximadamente 8.500 tinham asma. 1.430 crianças (5%) tinham asma grave, 4.750 (16%) tinham asma mal controlada e 2.353 (8%) tinham asma com episódios de gravidade crescente. Como a coorte incluiu apenas crianças com prescrição de CI, os resultados refletem principalmente crianças com asma persistente e mais grave, e não todos os casos de asma infantil.

Principais resultados

Marcadores lipídicos e de glicose em crianças

O colesterol total e o LDL estavam elevados em 10% e 11% das cerca de 2.000 crianças que tiveram marcadores lipídicos medidos. A lipoproteína de alta densidade (HDL, ou colesterol "bom") estava baixa em 15% das crianças, e cerca de 14% apresentavam triglicerídeos elevados. Hemoglobina A1c (HbA1c) elevada foi encontrada em 1,7% das cerca de 5.500 crianças. No entanto, a HbA1c elevada não foi um preditor independente da gravidade, do controle ou das exacerbações da asma.

Marcadores metabólicos e asma em crianças

Em crianças, níveis elevados de LDL e triglicerídeos aumentaram as chances de asma grave e de asma exacerbada em 2,3 vezes e 1,5 vez, respectivamente. O HDL baixo foi associado a um aumento de 1,5 vez nas chances de asma não controlada e exacerbada. Além disso, crianças nascidas pequenas para a idade gestacional (escore z ≤ -2) apresentaram um risco 1,44 vezes maior de asma não controlada.

Obesidade e marcadores metabólicos em pais

O índice de massa corporal (IMC) médio das mães antes da gravidez era de 23,5 kg/m², com quase 40% das mães apresentando sobrepeso ou obesidade. Cerca de 4% das mães e 8% dos pais apresentavam valores elevados de HbA1c.

O colesterol total e o LDL estavam elevados em 30% das mães e mais de 40% dos pais. Os triglicerídeos estavam elevados em cerca de 20% das mães e mais de 40% dos pais. O HDL estava baixo em 18% das mães e 24% dos pais.

Marcadores Metabólicos Parentais e Asma Infantil

Crianças nascidas de mães com níveis elevados de colesterol total, LDL e triglicerídeos apresentaram maior risco de asma não controlada. A HbA1c materna elevada também foi associada à asma não controlada. No entanto, embora o colesterol total materno elevado tenha sido associado à asma não controlada (OR 1,16), paradoxalmente, ele protegeu contra asma grave (OR 0,83).

Sobrepeso e obesidade materna pré-gestacional, bem como marcadores de disfunção metabólica, previram um aumento de 1,2 a 1,4 vezes nas chances de asma não controlada na criança.

Nos pais, níveis elevados de HbA1c aumentaram o risco de asma exacerbada em crianças, e níveis mais baixos de HDL foram associados à asma não controlada. No entanto, níveis elevados de colesterol total e LDL nos pais tiveram um efeito protetor moderado contra asma exacerbada (OR 0,96 e OR 0,86, respectivamente).

Conclusão

Dislipidemia em pais ou filhos foi um fator de risco para asma nesta coorte dinamarquesa de crianças com asma persistente. Isso sugere que o metabolismo lipídico anormal tem um efeito transgeracional, contribuindo para a asma por mecanismos além do efeito direto do peso corporal dos pais. No entanto, este foi um estudo transversal, baseado em registros, sem grupo controle, e os dados foram coletados apenas de crianças que já estavam em uso de CI. Os resultados refletem associações, não causalidade comprovada, e não podem ser generalizados para todos os casos de asma infantil.

Este estudo demonstra pela primeira vez que marcadores de metabolismo anormal em pais estão associados a desfechos de asma em filhos. Mais pesquisas são necessárias para desenvolver intervenções que previnam a asma em filhos.

"A associação entre peso materno, ganho de peso na gravidez, peso para a idade gestacional e risco de asma também requer mais estudos para recomendar possíveis mudanças no estilo de vida antes ou durante a gravidez materna e na primeira infância, que podem melhorar os resultados respiratórios ao longo da infância."